quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Prefeitura de Fortaleza realiza campanha para esconder a miséria das ruas no Dia das Crianças


“Não doe presente na rua,
Não dê a rua de presente”
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Diz o panfleto (entregue nos cruzamentos da cidade) de uma campanha da Prefeitura de Fortaleza para os motoristas não doarem nada nas ruas da cidade no Dia das Crianças. No entanto, quem dá a rua de presente aos pedintes e miseráveis não são os motoristas, e sim a mínima ação das autoridades, dos poderosos e suas antológicas inertes ações, as raízes da explosão social em datas comemorativas em Fortaleza, que ganham as ruas. O conflito social é mais profundo, complexo, do que se evitar contribuir para amenizar uma mínima parte do gigante problema. Doar, deixar de doar não vai acabar com o conflito.
A Prefeitura pede que as doações de brinquedos e outras coisas sejam oferecidas apenas nos endereços publicados no panfleto (nas Secretarias Regionais da Prefeitura). Mas, sabe-se lá se vai chegar as mãos dos pedintes, sabe-se lá se vai ser entregue em todos os pontos críticos da cidade, sabe-se lá se terá algum aproveitamento político em cima da carência de muitos. A idéia seria genial caso acontecesse muito antes do 12 de outubro, caso os gestores públicos viessem realizando um trabalho social intenso em toda nação de miseráveis moradores e cidadãos da Fortaleza que as vezes é bela, e muitas das vezes é cruel com quem passa necessidades básicas de sobrevivência (aqui a maioria da população parece “invadir” os cruzamentos com semáforo para pedir, mas, a rua é dessa grande maioria. Se pedem é porque existe necessidade, e há algo errado no mundo. O poder público deveria invadir com ações diárias a vida desta nação esquecida, que mora bem próximo aos nossos bolsos, aos nossos veículos.
O pobre não tem o direito nem de pedir, nem de aparecer, nem de reivindicar por seus direitos. A pobreza sai dos seus esconderijos, sai das suas cavernas em datas comemorativas e apelativas da emoção não por que seja aproveitadora, mas por que necessita. A explosão se dá nos semáforos, nos sinais dos cruzamentos da Fortaleza de frota veicular nova e antigas misérias. Em dias comemorativos a aflição estoura, as misérias dos subúrbios intocados aparecem no meio da rua. Choca ver dezenas, uma tropa de indigentes pedintes mirins invadirem os semáforos – o que é um dos poucos de seus direitos (transitar livre pelas ruas). Se pedem é por que falta, ninguém iria pedir se tivesse bem. A solidariedade vista nestes dias comemorativos de forte apelo sobre os motoristas deveria se estender pelo ano inteiro, e mais ainda a solidariedade do poder Municipal, Estadual, Federal ao invés de gastar dinheiro com panfleto para tentar romper as doações nos cruzamentos da cidade deveria combater as raízes da pobreza, das “vitrines invisíveis” que incomodam autoridades apenas no sentido da “invasão da miséria” transbordar aparentemente a luz do dia, no mesmo horário, em múltiplas partes da cidade. Ver a infinita pobreza exposta nos cruzamentos a flor da epiderme das diferenças exorbitantes sociais aborrece as entranhas egoísticas dos poucos que tem. A pobreza, seus miseráveis, os pedintes têm que ficar calados, escondidos, confinados as entrâncias obscuras do soterramento dos prédios. A mendicância tem que ser abafada e não resolvida, o mendigo deve ficar quieto, morrendo mudo, sem ajuda.
As ruas em datas comemorativas em Fortaleza viraram os maiores atos de protestos do Ceará, contra a mediocridade das grandes diferenças sociais que persistem aparecer, mostrar o rosto a contra gosto de muitas autoridades. Ache bom ou ache ruim, o pobre tem mais direito em aparecer e pedir, do que os que têm algo em reprimir e tentar esconder o problema ao invés de resolver definitivamente, é isto!

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