terça-feira, 17 de março de 2009

Livros de autoajuda são realmente úteis?


Qualquer livraria atual vende uma considerável quantidade de livros de autoajuda. Embora os temas que abordem estas publicações girem basicamente em torno de saúde, amor e dinheiro, oferecem muitas outras opções. Entre elas, estão como largar o álcool ou o tabaco, conseguir o autocontrole mental, educar os filhos ou superar as pressões no trabalho.

As fórmulas mágicas para conseguir um corpo perfeito, perder os quilinhos a mais no menor tempo possível ou acabar com a insônia também se incluem na cada vez mais ampla lista de livros de autoajuda, uma invenção editorial nascida nos Estados Unidos e que agora movimenta milhões de dólares no mercado global.


Aliados dos solitários

Editados em papel de média qualidade e com capas suficientemente chamativas para chamar a atenção dos aflitos em busca dessas fórmulas de como dar um giro de 180 graus em suas vidas, esses livros se transformaram em um aliado eficaz para os solitários."São milhões de pessoas sozinhas em um mundo estressante como este em que vivemos e onde é complicado estabelecer relações pessoais de qualidade", explica em seu site Natalia Muñoz Hernández, analista espanhola deste gênero editorial.

Por sua vez, o catedrático em Metafísica e reitor da Universidade Autônoma de Madri, Ángel Gabilondo, convida, em seu livro "Alguien con quien hablar" (Alguém com quem falar), a encontrar o espaço comum para o diálogo, uma necessidade determinante "em uma sociedade muito isolada, de sobreviventes".

O filósofo ressalta que, para viver, não basta seguir adiante por si só, como estimulam tantos livros de autoajuda, mas que necessitamos da proximidade e da palavra afetiva dos outros. Nos Estados Unidos os editores encontraram um filão no mercado latino e não param de lançar títulos nesta época de crise em que as pessoas procuram fórmulas para sobreviver ao fracasso.

Um dos sucessos de vendas mais recente é o que tem o longo título "Segredos do vendedor mais rico do mundo: dez conselhos práticos para vender mais, prestar um serviço melhor e criar clientes para toda a vida", de Camilo Cruz. Ele defende que todos somos vendedores de algo, pois "em algum momento de nossas vidas, e em nossas relações sociais, precisaremos persuadir, expor e convencer, seja em mercadoria, em ideias, em talento ou em oportunidades".

Enquanto isso, no mundo anglo-saxão americano, o recurso a este gênero está suficientemente assentado na vida cotidiana, após sua gênese nas consultas de afamados gurus da psicoterapia nos anos 1960, que descobriram assim um verdadeiro filão para se "autoajudarem" a ser milionários de verdade.


Paris Hilton se autojuda

Um bom exemplo do consumo deste gênero é Paris Hilton, uma das herdeiras do império hoteleiro que leva seu sobrenome e frequentadora assídua das capas das revistas de fofoca americanas, que apelou aos livros de autoajuda ao ser condenada a 45 dias de prisão por violar a liberdade provisória após dirigir sob efeito de álcool.

Há livros de autoajuda para todos os gostos, como os que oferecem recomendações sobre o comportamento e o aspecto externo do orador, sua atitude e inclusive a roupa que ele deve usar para cada discurso ou conversa.


A favor e contra

Sobre a efetividade dos livros de autoajuda, ignorados pela maioria dos críticos literários, as opiniões são díspares. Miquel Masgrau, médico catalão autor do livro "O prazer de deixar de fumar", disse à imprensa de Barcelona que "toda boa literatura teria que ser considerada de autoajuda, já que expande a consciência individual de cada leitor e o proporciona ideias novas que podem beneficiá-lo em sua vida cotidiana".

Outro autor catalão especialista no gênero, Francesc Miralles, considera que o nível de exigência dos consumidores deste tipo de livros aumentou nos últimos anos. Já o jornalista Fidel Masreal, autor de "Conviver com a depressão" -primeiro livro que aborda este grave problema do ponto dos familiares dos doentes- classifica os tratados de autoajuda de "banais" porque sempre oferecem "receitas milagrosas" para doenças para as quais muitas vezes não há um remédio definitivo.

O filósofo Gustavo Bueno, professor emérito da Universidade de Oviedo, é mais radical em suas considerações e diz que os livros de autoajuda são "para débeis mentais". Em seu livro "O mito da felicidade. Autoajuda para desengano de que buscam ser felizes" (2005), o autor afirma que este gênero é patrimônio de professores de filosofia, psiquiatras e psicólogos que "atuam como torcedores".

Ele ainda acusa de fraude alguns de seus autores, que reproduzem trechos de outros livros, muitas vezes de procedência oriental, para fazer com que passem como de autoria deles próprios. Bueno lamenta que a sociedade tenha adotado o "mercado da felicidade", como define o fenômeno. "Agora ser feliz é um dever e quem não quer sê-lo é um degenerado aos olhos da sociedade", acrescenta o filósofo.

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