sábado, 20 de junho de 2009

Especial: Expedição Brasília em Concreto (parte II)


Puxados a jegue, sem pagar propina para o capim, retornamos a Capital Federal. Brasília sua profunda beleza e seus superficiais traumas, sua gente e seus concretos. Outra vez sem usar gravata e armados apenas de canetas, papel, imaginação, uma câmera emprestada, um boné, amigos e ação, avançamos por entre figurões e figurinhas que fazem de Brasília a capital brasileira do dinheiro fácil. Em meio à gravata de tantos canalhas a fazer o mesmo discurso do dia em que a cidade foi inaugurada entramos pedindo licença aos detectores de metais. Aprecie então a segunda e última parte da dita expedição:
Muitas asas para raríssimos aviões no final de semana. Tantas asas do Norte ao Sul que ficamos perdidos em meio a setas, indicativos, palácios e negociatas de gente do Brasil inteiro. Na quinta todos saem, na terça quase todos voltam para desgraça do povo brasileiro.

À direita os Deputados, à esquerda o Senado. De comum apenas a conquista obscuras dos votos. É o metro quadrado mais cobiçado do Brasil. Para conquistá-lo são capazes de tudo. Até mesmo de comprar o seu voto ou vender seu próprio corpo. Evite se aproximar muito ou poderá cair na mesma desgraça.

Labirintos que levaram os passos a sujar todo o solado. As meias são salvas pelo suor ainda do Ceará. Corredores que energizaram os dedos a indicarem mais uma CPI, é por ai que os canalhas passam para tentar se limpar nas CPIs. É um dos corredores mais temidos em Brasília. Nós passamos sem medo, mas inevitavelmente nos melamos com a cobertura do eterno bolo, e seus confetes, apreciados logo na entrada da passagem. Na saída a oposição serviu a famosa pizza brasiliense e nos saldou com brindes de plataforma de petróleo.

Pobre operário da construção do poder. Trabalha demais durante o dia em Brasília. Ao meio dia precisa tirar um descanso. E sonhar com os dólares do esquema com as construtoras, do lixo que trás milhões, da mídia que ajuda o patrão, da política em 2010 que pode lhe colocar na rua. Dorme operário do Senado, e sonha com seu Deputado a te trazer a nomeação que tanto faz você sonhar durante o dia.

Antenas que transmitem a boca do Senado, das Câmaras dos Deputados. Irradiam ao horizonte longínquo do Brasil narrativas petrificadas pelo bolso. Levam imagens canonizadas, verdades e mentiras dos homens engravatados. Para raios que só transmitem e nada captam do individuo solitário, a passar fome e sede embaixo da terra do Senado, das Câmaras dos Deputados.

Afamados arquitetos da cidade planejada esqueceram que um dia Brasília iria ser invadida pelos carros dos engravatados. Também jamais daria para imaginar que algum dia os carros iriam ser iguais a bicicletas do passado.

Rainha da Justiça. Senhora da veracidade. Na verdade é o maior e mais famoso monumento a prostituição feminina do Brasil. Diz a lenda que ficou petrificada com seus olhos vendados após uma noite de uma estapafúrdia festa nos palacetes da Asa Sul, na residência do Ministro da Justiça do antepassado. Foi parar perdida na Praça dos 3 Poderes devido ordem ainda em tempos da ditadura, para não deixar suspeitas, e agradar a esposa de um ex-presidente que pertencia a classe das profissionais do sexo.

Pombos que tanto saltam e sobrevoam as esferas do poder. Desafiam o vento, o sol, os seguranças e as águas. Defecam na esfera cabeluda e sem cabelo dos ricos, sobre tetos onde tanta gente defeca na boca dos brasileiros. Pobres Pombos a encontrar sua rota e fugir para praças e palácios em todo o Brasil. Os Pombos da Praça dos 3 poderes são mais bobos do que os da Praça do Ferreira. Ao fundo a esfoliada prostituta nacional em monumento solidificado.

Ema solitária o que pensaste no gramado tão poderoso? Prestígio, influência e uma área imensa para correr, cantar e encantar. Tão próxima ao domínio, tão fotografada pelos turistas. Quem tu és? O que diria a todos que algum dia usaram as dependências do Palácio e esqueceram dos visinhos? Dos pássaros que teimam em te sobrevoar. Dorme ema encantada, sonha com a Casa Branca.

Quantas piadas já foram contadas nesta casa? Quantas vezes desentupiram a privada e arrebentaram a fossa? Tragédias, sonhos e pesadelos. Fortuna, dinheiro, fome e discórdia. Votos, elenco, caixa dois e desrespeito. De tudo este Palácio já viveu. Homens puros, homens infectados pelo poder do mandato que vai embora. Ficam os guardas, os seguranças, a ema e a grama, os quadros, os móveis e as histórias entre um concreto e outro.

Antes de voltar ao Ceará. Antes de desinfetar nossas lentes, nossas mentes, nossos teclados e CPUs. Antes da segurança do Lula chegar. Antes de virarmos alvo de vírus mortal da corrupção. Chegamos a mais um pôr-do-sol no DF. Outra vez em frente à casa do astro rei. O homem mais votado, o mais aclamado, o mais aprovado que o Brasil já teve. Entre emas, minhocas, peixes, guardas, armas, curiosos e o céu. Neste lugar onde o sol se põe em frente à casa do Presidente da República. Sou mais o nosso pôr-do-sol em cima das dunas.

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